A Cia. Cerne volta aos palcos com o espetáculo Turmalina 18-50 para uma circulação nas unidades SESI do estado do Rio de Janeiro. O espetáculo, indicado ao Prêmio Shell 2023 na categoria cenografia, de Cachalote Mattos, passará por Duque de Caxias, Jacarepaguá, Macaé, Campos e Itaperuna.
Montado com o intuito de homenagear o cinquentenário de morte (em 2019) do principal líder da Revolta da Chibata, João Cândido, o espetáculo TURMALINA 18-50 destaca o tempo em que o Almirante Negro (como é chamado na música “Mestre Sala dos Mares”, de Aldir Blanc e João Bosco, imortalizada na voz de Elis Regina), viveu em São João de Meriti (RJ), cidade sede da companhia.
Com pesquisa de Luiz Antonio Simas, supervisão de Rodrigo França e texto e direção de Vinicius Baião, a montagem carrega em seu título o último endereço onde viveu João Cândido Felisberto – Rua Turmalina, Lote 18, Quadra 50 – e refaz os caminhos percorridos pelo líder como forma de celebrar sua história e combater o apagamento de sua memória. Sua relação com as águas é tratada de maneira poética e simbólica, evocando a marinha, a pesca, os portos e também São João Batista, santidade católica que instituiu o batismo pelas águas e que margeia a vida de João, nascido no dia consagrado ao santo e residente a maior parte de sua vida em uma cidade cujo nome é em homenagem ao padroeiro. Outra relação traçada pela peça é a possibilidade de caminhos dados pelas encruzilhadas, em uma referência direta a sua terra natal, Encruzilhada do Sul, na região do Vale do Rio Pardo (RS). O espetáculo relembra os abusos sofridos pelos marinheiros negros até a primeira década do século passado, exalta a Revolta da Chibata, marco na luta por igualdade racial no país, denuncia o esquecimento intencional a que esta revolta e suas consequências foram submetidas e apresenta os últimos dias de João Cândido, um herói nacional pobre e esquecido, numa rua de terra na Baixada Fluminense, região periférica do estado do Rio de Janeiro.
A montagem, que teve sua estreia em Encruzilhada do Sul (RS), cidade onde nasceu João Cândido, circulou ainda por diversos espaços do Rio de Janeiro e São Paulo e rendeu ao cenógrafo Cachalote Mattos uma indicação ao Prêmio Shell 2022.
Morto em 1969, apenas em 2008 João Cândido teve a anistia concedida pelo governo brasileiro, mesmo ano em que se inaugurou uma estátua em sua homenagem na Praça XV, na capital carioca. Por conta do cinquentenário de morte, em dezembro de 2019 passou a integrar o Livro de Heróis e Heroínas do Estado do Rio de Janeiro, e o Livro de Heróis de São João de Meriti. Falta ainda sua inclusão no Livro de Heróis da Pátria, cujo projeto de lei segue tramitando. Desta forma, celebrar sua história é também ação de reparação histórica consigo e com o próprio país.